26 julho 2011

O norueguês (Den norske)

Passado o choque inicial, é tempo de analisar a brutalidade do atentado à bomba e o massacre na ilha norueguesa, não tanto no seu efeito imediato, mas no horror da arquitectura dos projectos que estão na cabeça daquele jovem. Projecta no seu livro a matança de 400 mil europeus, dos quais 10 mil e tal em Portugal, não por usarmos bigode, mas por sermos responsáveis pelo multiculturalismo e pela progressão do islamismo na Europa, etc. etc.

Estava, antes de ler mais este desenvolvimento da notícia, a pensar como o mundo não está nunca a salvo de tresloucados como este, que nos podem lançar nas trevas da guerra, porque, as ideias deste jovem, tem na grande parte dos países mais poderosos do mundo, representantes eleitos pela democracia de onde aproveitam as suas fragilidades para ir conseguindo os votos que vão sedimentando ideias malucas na cabeça tola de tantos milhões de parvos que por aí andam. E não se pense que cativam indigentes de rua, não, é mesmo gente de boas práticas sociais, comem com garfo, usam lindíssimos óculos escuros, são rigorosos na educação, enfim, gente do “melhor”. Para ele, em Portugal só se safariam os do CDS/PP. Aquela gente, predisposta a atender as prédicas dos mentores que as orienta politica e religiosamente, é um perigo, como o foi na Alemanha, naquele período a que podemos chamar de pré-nazismo, mas que apesar de tudo não foi tido em conta e leva os alemães a dizer que não sabiam nada do que se passava. Dir-me-ão que agora a Democracia é suficiente para estancar projectos destes, pois, mas os Le Pen’s, os Bossi’s etc., já estão praticamente a fazer parte de governos eleitos, ou seja, eles estão dentro da Democracia tecendo a estrutura, e o resultado está à vista na cabeça deste Breivik, cujo único erro talvez tenha sido ter perdido a paciência, e ter provavelmente estragado os planos a outros que estão pacientemente à espera do momento. E se acham que isto são horrores que só acontecem aos outros, lembro os anteriores incidentes com portugueses na Irlanda, as mais recentes manifestações dos finlandeses e a nossa inclusão numa lista simpática de PIIGES e agora, o nosso lugar na lista deste mafarrico. Receio que se eles vierem por aí a baixo, nem os do CDS/PP se safem, porque nem todos são louros como a Teresa Caeiro. Já vi negros de carapinha loura, mas claro, neles não dá... mas em mim, talvez passe! Desde que não fique à Roberto Leal...


Reedição:

24 horas depois da edição deste texto, lê-se em rodapé no telejornal na SIC-N que: Eurodeputado italiano admite simpatizar com as ideias de Breivik. É Mário Borghezio, precisamente da Liga de Bossi. Confirma-se: é um erro vermos esta tragédia como um mero incidente.

23 julho 2011

Um homem de utopias

Escrever, como qualquer outra actividade mais ou menos criativa, não é coisa a que possamos dedicar-nos forçando a vontade de o fazer. Por isso, resisto sempre que posso a fazê-lo como uma tarefa imposta. O intervalo, depois de tanto o que por aí se passou com motivos de sobra para opinar, é agora quebrado apenas pela simples vontade de vos falar de um amigo: Alípio de Freitas. Ou por outra, não sou eu que o vou fazer, é ele próprio através da entrevista que deu ao João Almeida no programa Quinta Essência, da Antena 2. Tenho a honra de o considerar um amigo mais ou menos recente porque o Alípio é assim: pessoa que tem o mérito de fazer amizades. Soube coisas novas nesta entrevista, não porque o Alípio se nos furte a falar da sua vida, mas porque no seu perfil não cabe essa necessidade constante de mostrar a folha de serviço. A retoma da escrita foi assim por agora por causa de “uma vida que dava um livro”: a do Alípio.

Faria mais sentido escrever sobre a bomba e o massacre numa ilha da Noruega? Talvez, mas perante a perplexidade desta realidade, prefiro as utopias consolidadas do Alípio.


Parte 2